quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Trio Fado - Com que voz (2005)


                    Maria Carvalho ( voz )
                    António de Brito ( voz / viola )
                    Daniel Pircher ( guitarra portuguesa )
                    Benjamin Walbrodt ( Cello )

    01. Disse-te adeus - Maria Carvalho
    02. Madrugada de alfama - Maria Carvalho
    03. Que Deus me perdoe - Maria Carvalho
    04. Con que voz - Maria Carvalho
    05. Vivo na noite - António de Brito
    06. A saudade é como o vento - António de Brito
    07. Asa negra - António de Brito
    08. O fado é a Mouraria - António de Brito
    09. Grao de arroz - Maria Carvalho
    10. Foi Deus - Maria Carvalho
    11. Guitarrada
    12. Barco negro - Maria Carvalho

    


O fado é a Mouraria

O fado é para a Mouraria, como o sangue no meu ser
que corre mas não se cansa
Os sentidos inebria e a vida foge a cantar
no olhar de uma criança.

De cada esquina um suspiro, por cada pedra um soluço
Todo o bairro ela cantou
No canapé de um retiro foi esta a sagrada herança
que a Severa ali deixou.

Onde os sonhos nas vielas a sombra de uma guitarra
nos perseguem dia a dia
Chorando o destino dela o fado cresceu ali
nas ruas da Mouraria.

Paira a saudade no ar em cada noite de fado
eu canto a voz da tristeza
Que essa canção nos vá dar, á parca luz de uma vela
o calor de uma certeza.


O fado é a Mouraria - Trio Fado (António de Brito)


    

domingo, 26 de dezembro de 2010

Acácio Leal - Cartas e beijos a mãe do emigrante [K7]



     A1 - Beijos de Minha Mãe
     A2 - Sonhei
     A3 - O Emigrante
     A4 - O Jardim de Portugal
     A5 - A Matilde Cantadeira
     A6 - A Vida É Saber Amar
     B1 - Um Português Emigrado
     B2 - Não Quero Saber Mais Dela
     B3 - Carta À Minha Mãe
     B4 - A Viela
     B5 - Longe de Tudo
     B6 - Só Na Noite


Acácio Leal - Não Quero Saber Mais Dela


      

Acácio Noé - Aquele menino pobre [EP]


     A1. Aquele menino pobre
     A2. A mão que nos torturou
     B1. Zeca Fadista
     B2. Não pecou


Acácio Noé - Zeca Fadista


         

sábado, 18 de dezembro de 2010

Arquivos do fado - Vol. I - Fado de Lisboa (1928-1936)


01. Maria Silva - Fado Dos Dois Tons
02. Alfredo Duarte - Olhos Fatais
03. Madalena de Melo - Quem Mais Jura
04. Maria Emilia Ferreira - Fado Franklin
05. Maria do Carmo Torres - O Sonho
06. Jose Porfirio - Fado Vitoria
07. Maria Silva - Fado Da Paixão
08. Armandinho - Ciganita
09. Maria Silva - Fado Britinho
10. Maria Emilia Ferreira - Fado Da Mouraria
11. Armanadinho - Fado Do Ciume
12. Ermelinda Vitoria - Fado Da Minha Aldeia
13. Maria do Carmo (Alta) - Os Beijos Sao Como As Rosas
14. Maria Emilia Ferreira - Fado Corrido
15. Alfredo Duarte - Cabelo Branco
16. Ermelinda Vitoria - O Meu Portugal
17. Maria Silva - Fado Antigo
18. Armandinho - Variaçoes Em La Menor
19. Maria Emilia Ferreira - Fado Do Aljube
20. Jose Porfirio - Consagração Ao Fado
21. Maria do Carmo (Alta) - Desgarrada - Fado
22. Maria Silva - Fado Fadista
23. Maria do Carmo Torres - Maria Da Graça

  

Maria do Carmo (Alta)

Cantadeira, nasceu em Moura em 1885 e faleceu em Lisboa em 1964. De nome completo Maria do Carmo Fontes Páscoa Bernardo, foi a eleva­da estatura que lhe proporcionou a alcunha que a celebrizou, imposta também para a distinguir da sua contemporânea Maria do Carmo Torres.
Filha de lavradores, deixou Moura com 3 anos e mudou-se para Lisboa com a família, onde foi aprendiza de camiseira na casa Ramiro Leão e mais tarde costureira com atelier próprio. Teófilo Braga, que habitava na residência frente à sua, es­timulou-a a cantar canções populares.
Com apenas 11 anos, foi uma das primeiras fadistas a cantar em retiros fora de portas.
A partir de 1918 dedicou-se mais ao Fado, nunca abandonando a sua profissão. O prestígio como cantadeira ligado à sua personalidade orga­nizada e empreendedora, levou-a a fundar o res­taurante Ferro de Engomar que geriu em conjun­to com Alberto Costa. Foi talvez o primeiro restaurante com elenco privativo, onde se cantava o Fado (às segundas, quintas e sábados) e onde acorriam figuras importantes de Lisboa.
Por vezes acompanhava-se à guitarra, instru­mento que aprendera a tocar com um tio. Apre­sentou-se praticamente em todos os recintos de Fado de Lisboa (Águia Roxa, Caliça, Pedralvas, Nova Cintra, Magrinho, Manuel dos Passarinhos, Bacalhau, Perna de Pau, Quebra-Bilhas, Tia Ele­na, Montanha, Charquinho, José dos Pacatos), efectuando algumas digressões ao Brasil, no­meadamente em 1920, onde permaneceu dois anos e meio. De regresso a Lisboa, preocupou-se em reorganizar o seu atelier, não descurando o Fado. Voltou ao Brasil em 1926 e apresentou-se no Cinema Central do Rio de Janeiro.
Em 1931 integrou o elenco da opereta História do Fado, apresentada pela companhia Maria das Neves, no Teatro Maria Vitória, juntamente com Ercília Costa, Maria Alice, Maria Albertina e       Al­berto Costa. Ainda com esta companhia, desem­penhou o papel de Cesária na opereta Mouraria, no Coliseu dos Recreios.
Fez várias parcerias com Alfredo Marceneiro (ver foto anexa)
Maria do Carmo fez parte de uma “troupe” cómi­ca tauromáquica de nome Charlot, Max e D. José, com a qual cantou durante três anos em muitas das praças de toiros do país.
Embarcou novamente para o Brasil em 1934, como figura principal da Embaixada do Fado, que integrava nomes como o guitarrista Armando Freire (Armandinho) o violista Santos Moreira, Maria do Carmo Torres,  Filipe Pinto e Joaquim Pimentel.
Formou o Grupo Artístico de Fados Maria do Carmo, que integrava Manuel Cascais, Cecília d´Almeida,  José Marques e Armando Machado.
Alguns dos Fados do seu repertório mais conhecidos foram, Fado Maria do Carmo, Beijos Venenosos, sendo uma das suas criações o bonito poema de João Linhares Barbosa, “É Tão Bom Ser Pequenino”

Fonte: Lisboanoguiness


Maria do Carmo (Alta) - Os Beijos Sao Como As Rosas




    

Ermelinda Vitória

Ermelinda Vitória nasce em finais do século XIX, no emblemático bairro da Mouraria, em Lisboa.
Embora os seus registos biográficos sejam escassos, várias fontes referem-se a Ermelinda Vitória como uma das mais populares cantadeiras da década de 30. De facto, é nos primeiros anos da sua infância que Ermelinda se destaca cantando por diversas vezes em público.
Em Setembro de 1930, Ermelinda Vitória e Joaquim Viegas são os vencedores do Concurso de Fado dos Bombeiros Voluntários do Dafundo. (cf. “Guitarra de Portugal”, 27 de Setembro de 1930). Ainda no mesmo ano, em 26 de Outubro, realiza-se na Cervejaria Jansen uma Festa de Homenagem a Ermelinda Vitória “que vai ter na tarde de 26 a compensação do seu incansável amor ao fado e dos sacrifícios que sempre tem dispensado a centenas de festas de beneficência.” (“cf. “Guitarra de Portugal”, 18 de Outubro de 1930)
No dia 26 de Outubro de 1929 João Linhares Barbosa redigia na “Guitarra de Portugal”: "Em 1892 nasceu na Mouraria, antigo bairro de Lisboa, Ermelinda Vitória, filha de gente humilde. Seu pae, conhecido pelo Joaquim Enguia, era um dêsses peregrinos tocadores de guitarra que levam às feiras e romarias as notas emotivas do Fado.
Quando Ermelinda tinha apenas 9 anos de idade, seu pai fê-la cantar numa "venda", em Setúbal, e tão bem se soube haver a pequena cantadeira, que o “Calafate”, o "Grande Cantador de Setúbal", lhe dedicou um feliz improviso, que foi uma profecia. Desde então Ermelinda Vitória afez-se à cruzada do Fado e era vê-la pela aldeia mais recôndita cantarolando, os fados que os prelos atiravam para as gargantas dos romeiros cantadores. Era atentar nela: franzina, saia rodada, cabelo preto, em bandós, com a sua guitarra, atirando ali e acolá uma cantiga sempre a propósito, no corrido, no menor ou no choradinho.
E começou a ser desejada e bemvinda esta cotovia dos arrabaldes!...” (cf “Guitarra de Portugal”, 26 de Outubro de 1929).
Ermelinda passou pelos Retiros do “Bacalhau”, “Ferro de Engomar”, “José dos Pacatos”, “Perna de Pau”, “Fonte do Louro” e “Quinta da Montanha”, para além das tradicionais esperas de touros. (Sucena, 1992:196)
Retomando João Linhares Barbosa: “Os tempos mudaram (...) a cantadeira deixou os retiros de fora de portas e veio cantar para a cidade, nos Casinos e Teatros (Ginásio, São Luís, Maria Vitória, Trindade, Apolo e Capitólio). As élites (...) levam-na a suas casas, porque ela, seguindo sempre na vanguarda das cantadeiras, tem um "tic especial: não usa cabelo cortado, não quer chapéu e, nos clubes americanados, não fuma, e ao contrário da "Maria da Graça" não tem "cinzeiros em casa".
Ermelinda também cantou em casas particulares, entre elas a de D. Roberto Burnay.
Acompanhada à guitarra por Armando Freire " Armandinho " Ermelinda cantou numa festa do Clube Monumental em homenagem ao duque de Lafões e na qual participaram as fadistas Maria do Carmo e Maria Emília Ferreira.
Quando canta Ermelinda não abdica do seu xaile, e “Martinho D´Assunção, é o seu poeta preferido, foi o único que veio ao encontro da sua aspiração plebeia e emotiva, escrevendo-lhe a sua mais querida cantiga: "O Xaile" “(cf. João Linhares Barbosa, in Guitarra de Portugal, 26 Outubro de 1929).
Ermelinda foi honrada com uma Festa de Homenagem, em 28 de Outubro de 1930 no Salão Jansen. (Sucena, 1992:197)
No seu percurso artístico, Ermelinda Vitória teve várias gravações de êxito, tendo inclusivé, também ingressado nos programas radiofónicos da Rádio Luso e Rádio Peninsular.
Morreu em Lisboa, na década de 80.

Fonte: Museu do Fado

Ermelinda Vitoria - Fado da minha Aldeia




Armandinho

Armando Augusto Salgado Freire nasceu em Lisboa, no Pátio do Quintalinho, perto da Rua das Escolas Gerais, em Alfama, a 11 de Outubro de 1891.

Com o pai aprende a tocar bandolim mas, aos dez anos, começa a interessar-se pela guitarra portuguesa e quatro anos depois, em 1905 faz a sua primeira actuação em público, no Teatro das Trinas, iniciando desta forma a sua carreira como instrumentista, profissão onde ficará conhecido pelo nome de Armandinho.

A sua carreira é impulsionada quando, em 1914, conhece o mais famoso guitarrista da época - Luis Carlos da Silva, conhecido por Luis Petrolino, e se torna seu discípulo. Ainda assim, manterá diversas profissões seja como meio-oficial de sapateiro, moço de bordo, operário da Companhia Nacional de Fósforos, servente do Casão Militar ou fiscal do Mercado da Ribeira.

Armandinho, apresentou-se pela primeira vez em público em 1905, com apenas 14 anos, no velho Teatro das Trinas, na Madragoa. Mas a sua estreia como guitarrista profissional tem lugar no Olímpia Club, situado na Rua dos Condes, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves.

Em 1925 acompanha cantadores e cantadeiras no Solar da Alegria, local de culto dos amantes do Fado que, amiúde, ali se deslocam para se deliciarem com as "improvisações" de Armandinho ou para ouvi-lo interpretar as composições do seu Mestre, Luis Petrolino.

Em 1926 faz a primeira gravação em Portugal em microfone de bobine eléctrica móvel. Grava seis composições, acompanhado na viola por Georgino de Sousa, para a His Master’s Voice, que em Portugal é financiada e vendida pela Valentim de Carvalho.

Dois anos depois, em 1928, também acompanhado por Georgino de Sousa, Armandinho grava em duas sessões no Teatro S. Luís, um conjunto de Fados, variações em tons diferentes uma marcha, mais uma vez editados no formato de 78 rpm. Estas faixas serão reeditadas em CD pela editora Heritage, em 1994.

Armandinho foi dos primeiros a realizar digressões artísticas fora do continente português. Em 1922 anuncia a sua ida a Espanha e a Inglaterra com João da Mata Gonçalves (cf. "Guitarra de Portugal", 4 de Novembro de 1922). Entre 1932 e 1933 desloca-se em tournée pelas Ilhas portuguesas, por Angola e Moçambique, acompanhado pelo mesmo violista e por Martinho d'Assunção, Ercília Costa, Berta Cardoso e Madalena de Melo.

Sobre as suas tournées, relata o próprio em 1936, na publicação "Azes do Fado": "Constituímos um pequeno grupo, que foi muito bem acolhido: Ercília Costa, João da Mata, Martinho de Assunção e eu. Mais tarde, animados pelo êxito deste primeiro voo, organizámos uma «tournée» à África (...). Percorremos as Costas Ocidental e Oriental. (...). A terceira «tournée» em que entrei, porventura a mais importante, já pelo número de artistas, já pelo reportório, foi ao Brasil, Argentina e Uruguai. Era a Embaixada do Fado, embaixada luzidia em que figuravam, além da minha humilde pessoa, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Lina Duval, Branca Saldanha, José dos Santos Moreira, Alberto Reis, Felipe Pinto, Joaquim Pimentel e Eugénio Salvador." Nesta última digressão Lina Duval e Eugénio Salvador apresentavam coreografias.

Músico autodidacta, toca de ouvido e, para além de um excelente executante, é também compositor de grandes melodias. Autor de muitos Fados e variações que sobrevivem até aos dias de hoje criou temas que se tornaram "clássicos", casos de "Fado Armandinho", "Fado de S. Miguel", "Fado do Cívico", "Fado do Bacalhau", "Fado Mayer", "Fado do Ciúme", "Fado Estoril", "Variações em Ré Menor", "Variações em Ré Maior", "Ciganita", "Fado Fontalva", "Fado Conde da Anadia", entre muitos outros.

O guitarrista afirma que a sua primeira composição foi o "Fado Armandinho" e, para o teatro, foi o "Fado do Cívico", cantada por Estêvão Amarante na revista "Torre de Babel", levada à cena no Teatro Apolo em 1917. Depois, também para teatro, compôs o "Fado do Bacalhau", interpretado por José Bacalhau a que se seguiram numerosas colaborações.

São inúmeras as vozes fadistas que acompanhou quer em actuações em espectáculos e casas de fado quer em gravações discográficas, a título de exemplo salientamos: Alberto Costa, Maria Vitória, Ângela Pinto, Adelina Ramos, Berta Cardoso, Madalena de Melo ou Ercília Costa, entre muitos outros.

Armandinho actuou nas mais emblemáticas casa de Fado de Lisboa, e, em 1930, tornou-se empresário, quando abriu o seu próprio espaço no Parque Mayer, o Salão Artístico de Fados, onde actuou durante alguns anos, mas depressa tomou consciência de que teria de se repartir por digressões e espectáculos pelo que abandonou este projecto. Actuou, ainda, em inúmeras casas particulares, especialmente nas casas da fidalguia como, por exemplo, nas da Família Burnay, Fontalva e Castelo Melhor.

Para além de João da Mata, Georgino de Sousa ou Martinho d'Assunção, outros grandes violistas tocaram com ele, entre os quais se destacam Abel Negrão, Fernando Reis, Santos Moreira ou Pais da Silva.

As suas interpretações são suaves e subtis, incluem pianinhos que retirava da guitarra tocando com as suas próprias unhas e, para determinados efeitos tímbricos, recurso à surdina. Armandinho revelou-se um marco na execução da guitarra portuguesa, criando "escola" onde se filiaram outros grandes nomes como José Marques Piscalareta, Carvalhinho, José Nunes, Jaime Santos, Raul Nery ou Fontes Rocha, entre outros.

O guitarrista exibia uma técnica adaptada aos fadistas que acompanhava, criando uma espécie de diálogo que evidenciava as particularidades interpretativas dos cantadores e que lhe permitia assumir uma posição de igualdade com os fadistas e não a subalternização dos guitarristas muito vulgarizada nas primeiras décadas do século XX. As suas interpretações tinham tal força que inspiraram ao poeta Silva Tavares as seguintes quadras:

“A guitarra - alma da raça,
Amante do meu carinho,
Tem mais perfume e desgraça
Nas mãos do nosso Armandinho.

Benditos os dedos seus
Que arrancam assim gemidos
Tal como se a voz de Deus
Falasse aos nossos ouvidos.”

Armandinho faleceu a 21 de Dezembro de 1946 na sua casa situada na Travessa das Flores, em Lisboa, deixando o Fado de luto como escreveu na sua capa o jornal "Guitarra de Portugal" de 1 de Janeiro de 1947. Deixou viúva e um filho, também guitarrista: Armindo Freire.

Foi um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses em 1927. Desta forma assumiu-se como responsável pela recolha de muitas melodias de Fado e pelo registo dos seus autores naquela sociedade, facto que nos permite o conhecimento actual de muitas destas melodias.

A Câmara Municipal de Lisboa, através de Edital de 01/08/2005, atribuiu o nome de Armandinho a um arruamento da Freguesia de Marvila.

Fonte: Museu do Fado


Armandinho - Variações Em Lá Menor





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

José Porfirio


José Porfírio (1º de Janeiro de 1909) iniciou-se nas "lides fadistas", como ele próprio confessou numa pequena entrevista ao "Trovas de Portugal" (Agosto de 1933), por influência de seu irmão, Ricardo Porfírio, de Filipe Pinto e João Pereira da Silva, todos amigos de infância e cantadores na zona da Graça. Exerceu as profissões de motorista e de manufacturador de calçado. Pertenceu ao Grémio Literário Amadores do Fado, de que seu irmão foi um dos fundadores, tendo sido aí que conquistou grande popularidade. Cantou, como amador, no Centro Fernão Boto Machado, no Centro Republicano Magalhães Lima, em inúmeras festas de homenagem e de solidariedade, e nas cervejarias “Boémia” e “Rosa Branca”. Admirador confesso do fado "alexandrino" diz: "foi na festa do meu irmão no Centro Magalhães Lima, que um grupo de amigos organizou em sua homenagem, em virtude de ele se encontrar acidentalmente em África que mais me emocionei. Cantei tão sentida e apaixonadamente pela saudade de meu irmão que não sei se mais alguma vez cantei melhor do que nessa tarde." (cf. Trovas de Portugal, 26 Agosto, 1933) Sobre a decadência do fado, respondeu ainda: "O fado não está decadente. Os fadistas é que vão decaindo pela falta de orientação. Os fadistas não se auxiliam, atropelam-se." Estreou-se como profissional em 1929 no retiro “Ferro de Engomar”. Passou também pelo “Retiro da Severa”, “Solar da Alegria” e no Coliseu dos Recreios; nos cafés “Ginásio”, “Mondego” e “Luso” e em quase todos os retiros, sociedades de recreio e teatros de Lisboa (exceptuando o S. Carlos e o Nacional). Gravou os discos de grande sucesso "Consagração do Fado" e "Fado Vitória". Cantou ainda em casa do conde de Proença, em casa de alguns fidalgos de Vila Franca de Xira e ainda no Coliseu dos Recreios aquando da festa artística do actor Rui Metelo. José Porfírio viria a falecer em Agosto de 1940, no Hospital S. José onde dera entrada a fim de se submeter a uma operação cirúrgica. O fadista contava com 31 anos de idade e fazia parte do elenco privativo do “Retiro da Severa”, que em sinal de luto fechou no dia do falecimento. O funeral realizou-se para o Cemitério Oriental, com grande concorrência de fadistas que lhe oferecerem uma coroa de saudades.(cf. “Canção do Sul”, 16 de Agosto de 1940). Selecção de fontes de informação: “Trovas de Portugal”, 26 de Agosto de 1933; Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves; “Canção do Sul”, 26 de Agosto de 1940. 

Fonte: Museu do Fado


José Porfirio - Fado Vitoria



Maria do Carmo Torres

Cantadeira, nasceu na Fuzeta, no Algarve, e morreu em Leça do Bailio, na década dos anos 1950.Ainda criança foi viver para Setúbal, onde trabalhou como operária conser­veira.
Estreou-se em récitas de teatro amador na­quela cidade com apenas 14 anos e aos 19 come­çou a cantar o Fado numa revista de amadores le­vada à cena no Salão Recreio do Povo de Setúbal. Numa outra revista interpretou a personagem do marítimo António Gouga, numa imitação em que era obrigada a cantar sete vezes seguidas.
Interessada em seguir uma carreira artística e sentindo que em Setúbal tal seria difícil, instalou­-se em Lisboa onde Raul Gil a levou ao Pátio do Carrasco, onde cantou pela primeira vez na capi­tal. Pouco tempo depois tornou-se uma cantadei­ra muito requisitada.
Actuou em todos os retiros dos arredores de Lisboa, em esperas de toiros, no Campo Pequeno, em festas de caridade e em teatros e cinemas de todo o país. Cantou no Retiro da Severa, Solar da Alegria e nos cafés Luso e Mondego.
Fez uma digressão pelo Brasil e pela Argentina organizada por Maria do Carmo Alta e em que também participaram Joaquim Pimentel, Filipe Pinto, Armandinho e Martinho d' Assunção.
Cola­borou na homenagem a Ângela Pinto, no Retiro da Severa em 1938, e integrou o elenco da festa de homenagem ao poeta João da Mata, realizada em 1931, no Salão Jansen.
Interpretou peças e opere­tas como Adeus, Artur!,  Coração de Alfama, A Se­vera e O Chico do Intendente.
O seu poeta preferido era Adriano dos Reis, autor de quase todo o seu repertório.

Fonte: lisboanoguiness


Maria do Carmo Torres - O Sonho





Maria Emília Ferreira

Maria Emília Ferreira, nasceu nas Caldas da Rainha, começou a cantar o Fado como amadora, tinha cerca de 12 anos.
Contemporânea de Maria Vitória, foram amigas e companheiras da boémia.
Foi também através do teatro que se tomou conhecida e admirada, com actuações, em Lisboa, no Teatro da Rua dos Condes, S. Luís, Coliseu dos Recreios, Avenida, Fantástico, Politeama, Maria Vitória e Eden-Teatro (onde participou na opereta Mouraria); e, no Porto, no Águia d'Ouro, S. João, Nacional (hoje Rivoli), Apolo- Terras  e Sá da Bandeira .
Profissionalizou-se em 1927 como cantadeira, foi convidada para actuar em terras brasileiras, mas preferiu cantar para o público português e em particular para o de Lisboa, que lhe proporcionou os seus maiores triunfos e a recompensou com estrondosas ovações, como sucedeu na célebre "Festa dos Vendedores de Jornais" realizada no Coliseu dos Recreios.
Dando às suas interpretações uma expressão inconfundível, que enternecia os que a ouviam, foi na verdade um caso invulgar de artista acarinhada por um público heterogéneo e entusiasta.
Já perto do fim da sua carreira (faleceu em 1941), actuou, sempre com o mesmo êxito, no Retiro da Severa, por onde passaram quase todos os grandes fadistas da década de 30, deliciando os numerosos admiradores com os fados que lhe deram fama, entre eles o Amor de Pai, com letra de Armando Neves e música do Fado “Marcha do Alfredo Marceneiro”, uma das suas mais populares interpretações.

Maria Emilia Ferreira - Fado da Mouraria





Alfredo Marceneiro


Alfredo Rodrigo Duarte, que ficou conhecido por Alfredo Marceneiro, dada a sua profissão, nasceu em Lisboa, no dia 29 de Fevereiro de 1891, embora o seu bilhete de identidade referisse o seu nascimento a 25 de Fevereiro de 1891.

Filho de Gertrudes da Conceição e Rodrigo Duarte, Alfredo foi o primeiro filho do casal, seguiram-se dois irmãos - Júlio e Álvaro - e uma irmã - Júlia.

Em 1905, quando tinha apenas 13 anos, o seu pai faleceu e Alfredo Duarte abandonou os estudos para ir trabalhar e ajudar no sustento da família. O seu primeiro emprego foi o de aprendiz de encadernador.

Tomou contacto com o Fado ao assistir às cegadas de rua. Conheceu então Júlio Janota que, para além de participar nas cegadas, tinha o ofício de marceneiro e lhe arranjou lugar como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique.

Alfredo Duarte começou por cantar Fados nos bailes populares que frequentava, entre os 14 e os 17 anos. É nesta altura, em 1908, que faz a sua estreia na cegada do poeta Henrique Lageosa, inspirada no argumento do filme mudo O Duque de Guise, onde interpreta o papel da amante do Duque.

Para além de participar nas cegadas, onde desenvolve o seu método de dizer bem e dividir as orações, Alfredo Duarte começa a cantar em diversas festas de solidariedade e nos retiros do Caliça, Bacalhau, José dos Pacatos, Cachamorra, Baralisa e Romualdo, mas é no 14 do Largo do Rato que se torna mais conhecido.

É alcunhado de "Alfredo Lulu" por se vestir de forma elegante e aprumada, mas será o apelido de "Marceneiro", que se eternizará, cantado pelo próprio fadista no poema de Armando Neves, de que reproduzimos um excerto:
               "Orgulho-me de ser em toda a parte
               Português e fadista verdadeiro,
               Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
               Sou para toda a gente o Marceneiro"

Esse nome artístico - "Alfredo Marceneiro" - surge numa festa de homenagem aos cantadores Alfredo dos Santos Correeiro e José Bacalhau, como o próprio fadista conta: "Uma noite fui convidado por amigos que já me tinham ouvido cantar em paródias próprias da idade a ir ao Club Montanha (hoje Ritz). Dirigia a festa o poeta Manuel Soares e perguntou: «Quem é este rapazinho? Como se chama? Que ofício tem?» Então, quando me apresentou ao público, esquecendo o meu apelido, anunciou: «Vai cantar a seguir o principiante Alfredo... Alfredo... Olhem não me ocorre o apelido. É Alfredo... Marceneiro...» E ainda hoje sou o Alfredo Marceneiro." (cf.”Guitarra de Portugal”, 15 Julho de 1946).

Ao longo da sua vasta carreira, e apesar de manter a sua profissão de marceneiro, Alfredo Duarte é contratado para exibições em casas como o Clube Olímpia, onde esteve com Armandinho, Júlio Proença e Filipe Pinto, e depois em outras casas típicas como a Boémia, na Travessa da Palha, o Ferro de Engomar, o Castelo dos Mouros, o Solar da Alegria, ou o Júlio das Farturas, onde cantou durante um ano.

No ano de 1924 participa num concurso de Fados do Sul-América, um espaço situado na Rua da Palma, e onde ganhou a "Medalha de Ouro". Nesse mesmo ano canta durante dois meses no Chiado Terrasse para animar as noites de cinema e é presença na "Festa do Fado" organizada pelo jornal "Guitarra de Portugal" no Teatro São Luiz.

A partir desta data a sua carreira prossegue com grande sucesso actuando em casas como o Retiro da Severa, o Solar da Alegria ou o Café Mondego. Chega mesmo a ter a sua própria casa, o Solar do Marceneiro, no final da década de 1940, mas sendo um espírito irrequieto não consegue cingir-se a cantar diariamente nesse espaço.

Como exemplo dos momentos mais evidentes da admiração e fama que adquiriu ao longo da sua longa carreira salientamos: a organização de uma festa artística, em 1933 no Júlio das Farturas do Parque Mayer; em 1936, o segundo lugar do título "Marialva", ganho num concurso do Retiro da Severa; a 10 de Maio de 1941 um outro espectáculo denominado "Festa Artística de Alfredo Marceneiro", desta feita no Solar da Alegria; ou, ainda, a consagração como "Rei do Fado", no Café Luso, a 3 de Janeiro de 1948.

Apesar do sucesso da sua carreira nunca saiu de Portugal para actuações e raramente deixou Lisboa, embora na década de 1930 tivesse integrado alguns espectáculos de grupos criados para efectuar tournées por Portugal, caso da "Troupe Guitarra de Portugal", com Ercília Costa, Rosa Costa, Alberto Costa, João Fernandes (guitarra) e Santos Moreira (viola); ou da "Troup Artística de Fados Armandinho", com Armandinho, Georgino Gonçalves, Cecília d’ Almeida, Filipe Pinto e José Porfírio.

Alfredo Marceneiro cantou também no Teatro, subindo ao palco do Coliseu dos Recreios, em 1930, com a Opereta "História do Fado", onde actuavam Beatriz Costa e Vasco Santana. As suas interpretações em palcos de teatros incluíram também o São Luiz, o Avenida, o Apolo, o Éden - Teatro, o Capitólio, o Politeama, o Maria Vitória, e outros.

Em 1939, com a conhecida cantadeira Berta Cardoso, grava actuações no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme" Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. O "Feitiço do Império" estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952. O filme foi protagonizado por Luís de Campos e Isabela Tovar, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), António Silva e Madalena Sotto. Lamentavelmente, a película existente na Cinemateca Portuguesa apresenta-se bastante deteriorada.

As gravações discográficas da sua obra não são muitas, uma vez que não apreciava cantar senão nos locais que considerava próprios e com a presença do público. Assim, apesar de ter gravado o seu primeiro disco, para a Casa Cardoso, em 1930, com os temas "Remorso" e "Natal do Criminoso", passou logo depois a ser artista privativo da Valentim de Carvalho. Seguiram-se apenas quatro LP’s e três EP’s, o último, "Fabuloso Marceneiro", gravado aos 70 anos.

O fadista também fez poucas aparições em programas de televisão. Em 1969, uma equipa técnica constituída por Henrique Mendes e Carlos do Carmo, como produtores, Luís Andrade, como realizador e José Maria Tudella, como operador de imagem, tem de se deslocar ao Bairro Alto para acompanhar Alfredo Marceneiro nas suas interpretações e poder assim realizar uma reportagem documental para a RTP. Dez anos mais tarde, em 1979, será pela intervenção do seu neto Vítor Duarte, que acederá a realizar um programa para a RTP, o qual foi exibido a 14 de Janeiro de 1980 e editado em DVD, pela Ovação, em 2007.

Apesar da sua fama e sucesso crescente mantém a profissão de marceneiro, até à década de 1930 nas oficinas de Diamantino Tojal e, posteriormente, nas Construções Navais do Arsenal do Alfeite, que depois passaram a ser administradas pela C.U.F..

Só em 1946 se dedica exclusivamente ao Fado como profissional, conservando no entanto em casa o banco de marceneiro e as ferramentas com que se entretinha a fazer pequenos trabalhos, um dos quais "A Casa da Mariquinhas", obra que merece especial relevo pelo cariz emblemático que assume para a própria História do Fado de Lisboa. Trata-se de uma construção em madeira, na escala de 1 por 10, em que, inspirado na letra de Silva Tavares, construíu/reconstruíu a casa evocada na descrição do poeta. Esta peça está actualmente na exposição permanente do Museu do Fado.

Alfredo Marceneiro considerava-se um estilista e nesta criação de estilos acabou por ser autor de composições que são hoje consideradas Fados tradicionais. A sua primeira composição foi a "Marcha do Alfredo Marceneiro", mas seguiram-se muitas outras como: "Fado Laranjeira", "Lembro-me de ti", "Fado Bailado", "Fado Bailarico", "Fado Balada", "Fado Cabaré", "Fado Cravo", "Fado CUF", "Fado Louco", "Mocita dos Caracóis", "Fado Pagem", "Fado Pierrot", "Bêbado Pintor" e "Fado Aida". Com a ajuda de Armando Augusto Freire (Armandinho), que lhe passa para pauta as suas criações, o fadista regista as suas músicas na Sociedade de Escritores e Autores Teatrais Portugueses.

O fadista foi pai de cinco filhos. Os primeiros dois: Rodrigo Duarte e Esmeraldo Duarte, resultaram de duas relações efémeras e os outros três: Carlos, Alfredo e Aida são fruto da sua união com Judite de Sousa Figueiredo com quem viveu até à data da sua morte, a 26 de Junho de 1982.

"Ti’ Alfredo" para os fadistas e amigos continua a ser considerado um dos fadistas maiores, seguido como um modelo na forma de dividir os versos cantados, não permitindo que as pausas musicais interrompam o sentido das orações. A sua figura característica, sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, será recordada juntamente com o seu modo particular de interpretar, com o balancear de ombros e tronco e as mãos nos bolsos.

Alfredo Marceneiro reforma-se em 1963, realizando-se a 25 de Maio desse ano, no Teatro S. Luiz, a festa de título: A MADRUGADA DO FADO - Consagração e despedida do Grande Artista Alfredo Duarte Marceneiro. Na verdade esta não foi uma despedida, Alfredo Marceneiro continuou a cantar durante quase mais duas décadas.

Em 23 de Junho de 1980, numa cerimónia realizada no Teatro São Luiz, é-lhe entregue a "Medalha de Ouro de Mérito da Cidade de Lisboa", pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º Krus Abecassis.

Homenagens póstumas:
- "Comenda da Ordem do Infante D. Henrique", atribuída a 10 de Junho de 1984 pelo Presidente da República General Ramalho Eanes;
- A Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a uma rua do Bairro de Chelas;
- Em 1991 foi comemorado o centenário do nascimento do fadista e entre outros eventos foi lançado o duplo álbum "O melhor de Alfredo Marceneiro" (EMI-Valentim de Carvalho) e foi exibido na RTP o documentário "Alfredo Marceneiro é só Fado".

Fonte: Museu do Fado

Alfredo Marceneiro - Lembro-me de ti






quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Arquivos do fado - Vol. III - As Fadistas de Lisboa (1928-1931)


01. Madalena de Melo - Fado Estoril
02. Madalena de Melo - Divinisado
03. Madalena de Melo - Cantares
04. Madalena de Melo - Fado da Meia Noite
05. Madalena de Melo - Fado Armandinho
06. Madalena de Melo - Fado em Re Menor
07. Celestina Luisa - Amor Abencoado
08. Celestina Luisa - As Minhas Saudades
09. Maria Silva - Fado da Mouraria
10. Maria Silva - Fado Tango
11. Maria Silva - Fado Corrido
12. Maria Silva - Fado Alice
13. Maria Silva - Fado Franklin
14. Maria Silva - Fado da Moda
15. Adelina Fernandes - Ser Fadista
16. Adelina Fernandes - Fado Penim
17. Adelina Fernandes - Quem Canta
18. Adelina Fernandes - Miserias
19. Adelina Fernandes - Dois Veus
20. Dina Teresa - Novo Fado da Severa
            
              
              

Dina Tereza


Em 1933 estreava no Brasil o filme "A Severa", o povo estava exaltado, o filme maos popular da cinematografia lusitana. Muitos ainda guardam indelével na memória as imagens e as inesquecíveis músicas que fizeram parte dessa famosa película. Baseada na obra de Júlio Dantas, realização de J. Leitão de Barros, com música de Frederico de Freitas, esse filme foi estrelado por Dina Tereza, notável atriz, vedete e cantora portuguesa.
Nascida em Olievira do Douro, Portugal, em 15/11/1902 - seu nome de batismo era Dina Moreira. De família humilde, foi dada aos cuidados de uma senhora inglesa, do Porto, que a educou dos 4 aos 13 anos de idade. Aos 10 anos a menina Dina já sentia enorma atração pelo teatro, um dia fugiu, foi ao teatro Águia Douro, na praça da Batalha, no Porto. Pediu ao empresáio para deixá-la juntar-se a companhia. Assim foi.
Em 1929, depois de trabalhar como caricata e cantora de fados em muitos lugares, participou do papel mais humilde que Leitão de Barros preparava para seu filme "A Severa". A película conta a histórica verídica de uma mulher de vida fácil, que vivera em lisboa e que se entregava aos condes e marqueses, mas que ajudava os pobres. Para sua surpresa, Dina, ganhou o papel principal e ganahva 150 escudos por filmagem. Dina imortalizou estes versos:  
            "Oh! Rua do Capelão
             juncada de romsninho!
             Se o meu amor vier cedinho,
             eu beijo as pedras do chão,
             que ele pisar no caminho!"

Daí o êxito em todas as partes do mundo. Em 1933, o velhor Serrador, da empresa de cinemas resolve trazê-la ao Brasil. Em 1951 não resistiu e aqui fixou residência. Retornou mais uma vez a Portugal para rever os parentes. Morava na cidade de Poá, em São Paulo, e ali veio a falecer, em sua chacara em 7/4/1984, onde descança no cemitério local.

Dina Tereza - Novo Fado da Severa





Adelina Fernandes


Educada no asilo de Santo António de Lisboa, cidade onde nasceu em 1896, Adelina Fernandes beneficiou do facto de aí se encenarem operetas que chegavam a ser levadas aos palcos do teatro. Tinha 14 anos e depressa caiu no goto da imprensa e, não menos importante, de Palmira Bastos, que a tomou sob sua protecção. Estreia-se no teatro na revista Aqui d'el Rei (1919). Tem uma bela voz, muito treinada para a opereta, que se experimenta no fado na revista O Fado dos Teatros (1920). O sucesso é tão grande que, a partir daí, o público só a quer como fadista.
O seu grande triunfo acontece com a opereta Mouraria (1926), interpretando Cesária, mulher do povo que bate o pé às fidalgas. No cume da sua carreira gravará dezenas de discos, como nenhuma outra artista portuguesa da época. O ocaso chegaria, mas Adelina Fernandes permaneceu de modo duradouro na memória do público.
Faleceu a 27 de Janeiro de 1983.

Fonte: macua.org

Adelina Fernandes - Ser fadista



Maria Silva

Nasceu em Lisboa esta apreciada cantadeira, que começou a sua vida artistica no Teatro, para o qual desde os nove anos começou a revelar bastantes aptidões, cantaondo com inexcedivel graça algumas cançonetas, duetos e fados emdiversas festas familiares e de beneficencia em varias colectividades de crecreio que frequentava. Já mulher e amando o Fado com acrisolado afecto, cantou-o nos retiros Ferro de Engomar, Charquinho, Quebra-Bilhas, Caliça, José dos Pacatos, Perna de Pau e Quinta do Correio-Mór, em varias esperas de toiros em Vila Franca, nos clubes Tauromaquico e Maxim's e no Teatro Apolo, numa festa do jornal "Guitarra de Portugal". Tendo ido em viagem de recreio ate a Africa, encontrou-se em Cabo Verde com o actor Casimiro Tristão, com o qual organizou uma companhia teatral que agradou bastante e em que ela cantou diversas vezes o Fado, sendo sempre bastante aplaudida.
"Mariazinha" gravou nos Estabelecimentos Valentim de Carvalho os seguintes discos que obtiveram grande sucesso: Fado fadista, Fado antigo, Fado Boemia, Fado em ré menor, Fado Britinho, Fado da Paixão, Fado dos dois tons, Fado da moda, Fado da Mouraria, Fado Tango, Fado Alice, Fado Franklin e Fado Corrido.
É autora de algumas quadras que fazem parte do seu repertorio, improvisando com grande facilidade.
Na sua vida de cantadeira, em que tem tido tantas noites de triunfo, a que melhor gravou na sua memoria foi, há anos, no retiro Ferro de Engomar, onde se realizava uma festa de homenagem a sua colega Maria do Carmo. Foi ali, convidada por algumas pessoas amigas e não pra cantar; porem, como a assistencia a houvesse reconhecido imediatamente foi solicitada para cantar, não tendo outro remedio senão aceder. Cantou o Fado Corrido e outros fados, sendo então alvo duma carinhosa e entusiastica ovação quem muto a enterneceu.

Maria Silva - Fado Franklin



Madalena de Melo


Madalena de Melo, nasceu em Aveiro, tendo falecido em Moçambique, em 1970.
Possuidora de uma voz expressiva e de uma excelente dicção, foi uma das mais apreciadas e aplaudidas cantadeiras da sua geração, iniciando a sua carreira no teatro em 1926.
Cantou no Retiro da Severa, (ainda no Luna Parque), no Solar da Alegria, nos Cafés Luso e Mondego, numa sessão de gala no Teatro Ginásio, em esperas de toiros e em todos os teatros de Lisboa.
Foi das primeiras cantadeiras a gravar em disco, tendo participado na década de 20, em alguns dos primeiros registos de Fado.
Actuou em África, Espanha e Brasil, tendo neste país vencido um Concurso de Fado!
Foi homenageada na Sala Júlia Mendes, no Parque Mayer, tendo partido depois para Moçambique, onde viria a falecer!

Fonte: G-Sat (texto), Fadocravo (imagem)



Madalena de Melo - Fado Armandinho





Severa


A primeira cantadeira do fado foi Maria Severa Honofriana, nasceu em Lisboa em 1820, seu pai de etnia cigana e a mãe uma portuguesa de Ovar. De beleza exotica e cantar expressivo que conquistou os boemios da capital.
Conta-se quer Levou o fado aos bairros populares de Lisboa e a sua voz animou as noites de muitas Tertulias bairristas, tabernas ficaram famosas só pela sua presença.
Sua mocidade cheia de beleza, despertou paixões... diz-se que terão sido seus olhos aliado ao seu doce canto, atraído o Conde de Vimioso, homem garboso, foi o primeiro Cavaleiro Tauromaquico da epoca. O contraste entre a condição social destes amores, foram por si só tema de muitos fados. Leviano e mulherengo, o Conde deixa a Severa e se apaixona por uma cigana, o que deixa Severa desvairada, começa a não ter forças para lutar pelo seu amante.
Por volta de 1845, os sintomas da doença se manifestam. (A sua morte terá sido devido a tuberculose)
Severa morre pobre e abandonada num miserável bordel da Rua do Capelão, a 30 de novembro de 1846, consta que as suas últimas palavras terão sido — “Morro, sem nunca ter vivido” — tinha 26 anos.
Foi sepultada em vala comum, sem caixão, cumprindo o seu desejo.


Fonte: (texto e imagem) "Lisboa no Guiness"





O Fado

"O Fado é a cantiga que define um povo. Melancolica e apaixonada, como o temperamento da raça que o deu à luz, ela tem na sua toada sonolenta alguma coisa de magoado em que transluz toda uma epopeia roxa de saudade. Da antiga tradição aventureira e sonhadora que nos tem vindo pelos seculos fora ate estacar na miseria inérte d'hoj'em dia, é ela o grito mais fundo e mais bem lançado que da alma de uma nacionalidade tem saido -- grito que só se dá a sós com o coração, grito intimo de tortura e descalabro de ambições. A' ventura pelos mundos de Cristo, sacola ao ombro e bordão de peregrino a quem nada preocupa, -- peregrino da ilusão -- o portugues leva sempre nos labios a doce cantiga do Fado, como balsamo para todas as magoas e incentivo à sua sensibilidade. Raça de poetas e viajeiros, não se dá conosco a fria realidade; d' olhos vendados se caminha; se amanhã não houver pão, Deus o dará; ao longe é a bruma e para ela se vai inconscientemente, não antevendo perigos, desdenhando obstaculos, abandonando conselhos da consciencia; d'ai, a valentia do portugues, a sua tenacidade, a sua ingenuidade e o seu bom fundo. Quem mal não pensa mal não cuida. O Fado foi, pois, a cantiga mais consentaneamente inventada para companheira d'este simples deixar correr que reside em nós todos. Lutas da alma, saudades de tempos idos e coisas desaparecidas, queixas d'amante desprezado, soluço amargo de uma dor oculta, tudo isso ela traduz com um sentimento pungente e doloroso. A mesma ironia é coada por lagrimas; abranda nas inflexões do lamento e em vez de irritar, sensibiliza; amolece os intuitos; quer ferir e afaga, quer apunhalar e dá a vida."

JPinho